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Primeira aviadora potiguar

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Nascida em 1918 em Natal, Lucy Garcia Maia pertencia a uma renomada família local. Educada na Escola Doméstica, destinada a moldar damas da sociedade na gestão do lar, Lucy optou por seguir seu profundo amor pelos esportes. Ela se destacou no tênis, vôlei, basquete e até se aventurou no remo, tradicionalmente um esporte masculino. Lucy foi instrumental na criação do Centro Desportivo Feminino, incentivando outras mulheres de Natal a abraçarem o esporte.

Sua ousadia não parou por aí. Em 1942, Lucy Garcia Maia quebrou barreiras, enfrentou tabus e discriminações e, em 1942, conseguiu o feito de se tornar a primeira mulher norte-rio-grandense brevetada no Aero Clube. A aviação, assim como o remo, era considerada uma área dominada por homens. No entanto, com a bênção e apoio de seu pai, Lucy perseguiu seu sonho de voar.

“Precisei de coragem para enfrentar a sociedade, porque uma moça sozinha no meio de 12 rapazes causava estranheza”, comentou. Começando sua formação em julho de 1942, ela estava frequentemente rodeada por colegas e instrutores masculinos. Após treze horas de treinamento, tomou as rédeas de um Piper Cub J-3.

No seu voo inaugural, ela deslumbrou-se ao sobrevoar os encantos de sua cidade natal. Apesar de desafiar as expectativas, o que a movia era mais a paixão do que a rebelião. Em um testemunho de 2000, Lucy refletiu sobre sua experiência, declarando à pesquisadora Ana Amélia Fernandes: “Sentia-me como se fosse dona do mundo, dominando o espaço e confiante na arte de voar. Medo? Nunca senti isso em relação à aviação. Meu verdadeiro desejo era seguir na carreira e me tornar piloto comercial.” Decolou da Base Aérea de Natal, atravessou a cidade no sentido norte, cruzou o rio Potengi, fez voos rasantes sobre a praia da Redinha, as dunas e o azul-turquesa das lagoas. Na volta à base, os colegas e seu instrutor a esperavam muito apreensivos.

Em 25 outubro de 1942, Lucy foi oficialmente licenciada, autorizada a pilotar modelos como Piper J-3, Culver e PT-19. Por meia década, Lucy voou, realizando viagens para destinos como Fortaleza, Recife e João Pessoa. Sua coragem ecoava os feitos da norte-americana Amélia Earhart, que uma década antes, em 1932, tornou-se a primeira mulher a cruzar o Atlântico sozinha em um avião, imitando a façanha anteriormente conquistada por Charles Lindbergh em 1927.

Alguns anos depois, em 1947, ela casou-se com Evaldo Lira Maia, um piloto da Aeronáutica que também era da Varig, com quem teve quatro filhos. E foi justamente a maternidade que fez Lucy reconsiderar sua carreira nas companhias aéreas. “Eu olhava aquela criancinha no berço e ficava imaginando se alguma coisa me acontecesse durante um voo; ela ficaria sem os meus cuidados maternos”, refletiu. Lucy morreu em outubro de 2001 em sua residência, no bairro de Morro Branco, sucumbindo a um câncer, sendo enterrada no cemitério do Alecrim aos 83 anos.

Lucy Garcia Maia não foi apenas uma pioneira na aviação potiguar; ela também inspirou outras mulheres a seguirem seus sonhos, independentemente dos obstáculos. Seu legado vai além dos voos que realizou e das distâncias que percorreu. Ela provou que o céu, literalmente, não é o limite para quem tem paixão e determinação. Apesar dos desafios enfrentados em uma época onde o papel da mulher era extremamente restrito, Lucy abriu caminho para outras aviadoras e desafiou as convenções sociais. Hoje, ao olharmos para o céu de Natal, é essencial lembrarmo-nos de Lucy Garcia Maia, não apenas como a primeira aviadora potiguar, mas também como símbolo de perseverança, coragem e paixão.