Personalidades

Januário Cicco: o nome por trás da principal maternidade de Natal

Natal, a capital potiguar, possui inúmeras histórias e personalidades que marcaram seu desenvolvimento ao longo dos anos. Uma dessas figuras centrais é Januário Cicco, um nome que se tornou sinônimo de cuidado, saúde e formação médica na cidade. A Maternidade Januário Cicco é mais do que um centro médico; é um patrimônio da saúde de Natal.
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Filho do italiano Vincenzo De Cicco e da potiguar Ana Albuquerque, Januário Cicco nasceu no dia 30 de abril de 1881 em São José de Mipibu, no Rio Grande do Norte e foi um importante nome da medicina potiguar do início do século XX. Formou-se em medicina na Universidade Federal da Bahia e mudou-se para Natal em 1906 e desde então desempenhou um papel crucial na saúde pública e privada da cidade e do estado do Rio Grande do Norte.

Até sua chegada, a cidade contava apenas com o Hospital da Salgadeira, inaugurado em 1855. Era nesse estabelecimento que a população buscava assistência médica. No entanto, no mesmo ano em que Januário chegou a Natal, o hospital teve de encerrar suas atividades devido à falta de infraestrutura adequada para atendimento ao público. Diante deste cenário, Januário Cicco reconheceu a urgência de oferecer cuidados médicos à população local de maneira mais digna e segura. Sem expectativa de apoio político ou financeiro externo, decidiu abrir um consultório em sua própria residência, dando início aos atendimentos à comunidade.

Em 1909, Januário Cicco inaugurou o Hospital de Caridade Juvino Barreto, considerado o primeiro hospital popular da cidade. O imóvel escolhido pertencia ao governador Alberto Maranhão, que gentilmente disponibilizou sua residência de veraneio para a causa. A localização da casa era estratégica, estando próxima à costa. A crença popular da época defendia que os ventos marinhos beneficiavam os tratamentos médicos. O hospital, fundado por Januário Cicco, passou a ser conhecido como Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) em 1960, nome que ainda mantém. Onofre Lopes, que deu nome ao hospital, foi o fundador da UFRN. Porém, a trajetória de Januário Cicco em Natal não se restringiu apenas a essa conquista. Ele se destacou como uma figura central na medicina popular da cidade.

Em 1927, surgiu a Sociedade de Assistência Hospitalar (SAH) com o objetivo de administrar o Hospital Universitário Onofre Lopes. Anteriormente sob controle governamental, o hospital tornou-se inteiramente civil, o que otimizou processos e reduziu burocracias. No mesmo ano, Januário Cicco iniciou uma campanha para estabelecer uma maternidade, recebendo, para isso, a doação de um terreno pelo então prefeito, Omar O’Grady.

O nascimento da Maternidade-escola Januário Cicco

Com o terreno garantido, a busca era agora por recursos para a edificação. A arrecadação estava a todo vapor com eventos, festas e leilões. Contudo, em 1937, uma tragédia pessoal abateu Januário: a perda de sua filha e esposa. Essa dolorosa experiência fez com que ele mergulhasse de cabeça no trabalho, deixando de lado qualquer envolvimento social. Em 1942, com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, Natal se tornou um ponto estratégico, atraindo muitos americanos à região. Eles necessitavam de uma instituição hospitalar, especialmente uma maternidade, que estava em seus estágios iniciais de desenvolvimento.

Esse cenário propiciou um impulso significativo ao projeto, e em 1950, a Maternidade de Natal foi, finalmente, aberta ao público. Às 9h do dia 15 de fevereiro daquele ano, a primeira criança veio ao mundo: uma menina batizada de Yvette, em tributo à filha que Januário Cicco perdera anos antes. O próprio Januário Cicco deixou bem claro uma coisa: “Não construí a maternidade para abrigar soldados e sim para mulheres pobres darem à luz em paz.”

A Maternidade de Natal inaugurou com 64 quartos e um número duas vezes maior de leitos, onde cada quarto tinha o nome de uma flor. Mas foi em 1961 que a maternidade foi renomeada como Maternidade-Escola Januário Cicco, servindo como campo de aprendizado para os estudantes da então recém-criada UFRN, nas áreas de obstetrícia e ginecologia. Atualmente, a maternidade destaca-se como um pilar de saúde em Natal, consolidando-se entre as melhores em atendimentos e consultas via SUS. Outro mérito da instituição é a Certificação da Qualidade de Banco de Leite Humano, concedida ao Banco de Leite Humano da Maternidade. Este reconhecimento já foi entregue seis vezes consecutivas pela Associação Brasileira de Profissionais de Bancos de Leite Humano e Aleitamento Materno (ABPBLH-AM).

Além da pioneira instituição de saúde e da maternidade, Januário Cicco também foi responsável por criar o primeiro serviço de pronto socorro de Natal; foi idealizador do primeiro banco de sangue de Natal; criador da Escola de Auxiliares de Enfermagem e foi fundador do Centro de Estudos da Sociedade de Assistência Hospitalar. Além destes incríveis feitos, Januário Cicco escreveu várias obras, entre as mais importantes estão: “O Destino dos Cadáveres” (1906); “Como se Higienizaria Natal” (1920); “Memórias de um Médico de Província” (1928); “Eutanásia” (1932). É importante ressaltar que essas obras são de extrema importância no meio médico até os dias atuais.

O legado de Januário Cicco não se restringe às paredes da maternidade que leva seu nome. Sua visão e dedicação à saúde influenciou gerações e estabeleceu padrões para a medicina no estado. A cidade de Natal deve muito a este pioneiro, que com sua paixão e compromisso, elevou os padrões de cuidado e formação médica na região. Assim, ao caminhar pelas ruas de Natal e ao ouvir o nome “Maternidade Januário Cicco”, é impossível não reconhecer a imensa contribuição deste médico potiguar para a saúde e formação médica do Rio Grande do Norte. Ele é, sem dúvida, uma das grandes personalidades da história potiguar.

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