Cultura Potiguar

O dia em que 15 mil pessoas do interior invadiram Natal

No auge da grande seca que devastava o nordeste brasileiro, a cidade de Natal, então com cerca de 20 mil habitantes, foi palco de um episódio dramático. Cerca de 15 mil retirantes do interior do estado do Rio Grande do Norte, impulsionados pela fome e pela escassez de recursos, ocuparam a cidade em 1904, num movimento de desespero e resistência.
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No ano de 1904, retirantes do interior do Rio Grande do Norte chegaram à cidade do Natal carregando enxadas, instrumentos símbolos do trabalho no campo e de sua origem rural. Eles se reuniram nas proximidades do Teatro Carlos Gomes, no bairro da Ribeira, vestindo roupas simples e muitos carregando filhos ainda crianças. A área próxima ao teatro se tornou um refúgio para aqueles que buscavam algum tipo de abrigo ou ajuda.

A cidade, que antes era conhecida por sua tranquilidade, passou a viver momentos de tensão e medo. A criminalidade aumentou, fruto do desespero e da necessidade, e as lojas e casas foram assaltadas. A miséria tornou-se um rosto comum nas ruas da capital potiguar, e a fome começou a assombrar a população. A situação dos retirantes causou uma comoção social sem precedentes, marcando a história de Natal e do estado do Rio Grande do Norte. A invasão de 1904, portanto, não foi apenas uma mera ocupação física, mas também um grito de socorro do povo nordestino, que clamava por auxílio frente a um cenário de extrema penúria.

No contexto desta grande crise, a angústia também atingiu os mais altos cargos do estado. O então governador, Tavares de Lyra, desesperado com a situação, enviou um telegrama urgente ao presidente da República, Rodrigues Alves, descrevendo a situação dramática:

“Pelas estradas, misturadas aos bandos de famintos, notam-se já famílias de antiga representação social, que dispunham de tiva fortuna, aniquiladas pela seca. São inúmeros os furtos pelos campos, sendo já numerosos os assaltos a casas de comercio e residências. Não resta mais nenhuma esperança de inverno… espetáculo da nudez e fome, mesmo na capital, urgentíssimo. Nesta cidade, além do pessoal aproveitado nos trabalhos da estrada do Ceará-Mirim e de milhares que aguardam passagem, […], vagam pelas ruas outros milhares de indigentes sem abrigo nem pão, morando da caridade dos habitantes. […]. Começam a aparecer casos de disenteria e varíola. Aqui, como no interior, repetem-se diariamente inúmeros óbitos por inanição. Queira vossa excelência O Presidente da República Rodrigues Alves caridosamente atender a súplica de um estado inteiro, vitimado por uma calamidade que abateu todas as suas energias, reduzindo assustadoramente sua população pela expatriação e pela fome e aniquilando todas as suas forças produtoras.”

Este episódio ilustra a dureza e a resiliência do povo brasileiro em meio a adversidades. É uma lembrança vívida de como a natureza e as condições climáticas podem afetar a vida das pessoas e de como a solidariedade e a ação governamental são essenciais para enfrentar esses desafios. Embora o episódio tenha ocorrido há mais de um século, as lições aprendidas continuam relevantes. A memória desta grande invasão deve servir como um lembrete para as autoridades e a sociedade sobre a importância de políticas públicas eficazes de combate à seca e de apoio à população em situações de emergência.

O Melhor de Natal é a revista digital que traz para você, todos os dias, dicas sobre a cidade de Natal e o estado do Rio Grande do Norte, informações sobre roteiros de viagens, passeios, turismo, gastronomia, shows, espetáculos, história, arte, cultura potiguar, música, natureza, esportes, festas e muito mais!

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