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Praia do Marco

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Uma nova tese sugere que a “descoberta” oficial pelos portugueses não ocorreu primeiramente na Bahia, na cidade de Porto Seguro em 22 de abril de 1500, conforme ensinam os livros de história. O descobrimento do Brasil se deu pelo Rio Grande do Norte, precisamente na Praia do Marco, município de Touros, a cerca de 1.700 km ao norte. Pelo menos essa é a teoria levantada por historiadores e estudiosos respeitados e o argumento é sustentado por várias linhas de evidência, incluindo o diário de bordo de Pero Vaz de Caminha, o mapa de Cantino e até mesmo os padrões de vento e correntes oceânicas da época. Vamos entender melhor as evidências desta tese?

A primeira peça do quebra-cabeça é o diário de Pero Vaz de Caminha. O documento, datado de 1500, faz várias referências a uma “grande montanha alta” que pode ser vista a distância. Nenhum ponto do atual estado da Bahia se encaixa na descrição, mas o Pico do Cabugi, no Rio Grande do Norte, se encaixa perfeitamente. Outra informação importante, é que o Monte Pascal, na Bahia, sequer é um “monte”, mas uma torre, cortada e sem “pico”.

A segunda peça do quebra-cabeça, que reforça a primeira, é o mapa de Cantino, um dos primeiros mapas a descrever o Novo Mundo, datado de 1502. O mapa mostra uma representação detalhada da costa brasileira, com destaque para a existência de um “monte” no local onde hoje está localizado o estado do Rio Grande do Norte.

A terceira evidência seria a presença de “aguada” no litoral, conforme consta na carta do descobrimento. Aguada seria a água doce, presente nas proximidades do Marco de Touros e inexistente em Porto Seguro, na Bahia. A quarta peça do quebra-cabeça seria o Marco de Touros, diferente do fincado na Bahia. O daqui é esculpido com símbolos e brasões semelhantes ao marco chantado no município de Cananéia, em São Paulo, que seria o segundo marco português no Brasil.

A última, e mais importante peça, é a análise das condições climáticas e das correntes oceânicas em abril de 1500, quando a frota portuguesa teria chegado ao Brasil. As correntes marítimas que direcionariam as caravelas, naturalmente teriam enviado Pedro Álvares Cabral e sua frota ao estado do Rio Grande do Norte, pois haveria uma dificuldade imensa para se chegar da Europa à Bahia através destas correntes. Há navegadores que, sem exagero, vão até Dakar (na África) para se aproximar do Brasil, tamanho a força destas correntes. As correntes na região sul do Atlântico tendem a empurrar as embarcações para o norte, tornando provável que os portugueses tenham aterrissado mais ao norte do que se acredita tradicionalmente.

Os proponentes desta tese salientam que esta não é uma tentativa de reescrever a história, mas sim de aprimorá-la. Afinal, a “descoberta” do Brasil pelos europeus é um marco significativo na história global, e cada detalhe adiciona à nossa compreensão de como o mundo como o conhecemos hoje se formou.

Para a população de Touros e do Rio Grande do Norte, a aceitação da tese poderia trazer mudanças significativas. O turismo na região poderia receber um impulso, já que a cidade se tornaria um importante marco histórico. Além disso, poderia resultar em mais investimentos em infraestrutura e educação para a área, contribuindo para o desenvolvimento local.

Porém, como toda teoria histórica, esta também enfrenta o escrutínio da comunidade acadêmica. Alguns historiadores afirmam que mais pesquisas são necessárias para corroborar essas afirmações. Eles argumentam que a descrição de Caminha sobre a “montanha alta” é muito vaga e poderia se referir a várias outras localidades ao longo da costa brasileira. Além disso, eles salientam que o mapa de Cantino, embora historicamente valioso, não é precisamente acurado de acordo com os padrões modernos de cartografia.

Esses historiadores também enfatizam que, embora as correntes e ventos possam ter direcionado os portugueses mais para o norte, isso não exclui necessariamente a possibilidade de terem chegado primeiro à região de Porto Seguro. As correntes oceânicas e os ventos são fenômenos complexos e podem ser influenciados por uma série de fatores. A disputa, entretanto, está longe de ser resolvida. Os defensores da teoria de Touros não mostram sinais de recuo, e novas pesquisas estão em andamento para encontrar mais evidências que possam apoiar suas reivindicações.

E independente de onde exatamente os portugueses pisaram pela primeira vez em terras brasileiras, o que é indiscutível é a importância dessas descobertas para o entendimento de nossa história. Cada nova peça de evidência, cada interpretação diferente de documentos antigos, ajuda a enriquecer nossa compreensão do passado. Por enquanto, resta aos brasileiros, e ao mundo, aguardar o desenvolvimento dessas pesquisas e o debate acadêmico. Seja em Touros ou em Porto Seguro, a verdadeira “descoberta” que emerge dessa controvérsia é a da riqueza, diversidade e complexidade da história do Brasil.