Personalidades

Você sabe quem foi Filipe Camarão, o comandante militar indígena que virou cavaleiro do Império Português?

Filipe Camarão foi um índio potiguar, chamado Poti ou Potiguaçu em sua tribo. Convertido ao cristianismo, recebeu o nome de Antônio Filipe pelos jesuítas que o educaram, numa homenagem a Filipe IV, rei da Espanha. Chefe nativo dos índios potiguares contra os invasores holandeses, foi um dos heróis da Batalha dos Guararapes, episódio decisivo da Insurreição Pernambucana. Recebeu o título de "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil".
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A chegada de Pedro Álvares Cabral às terras brasileiras marcou o encontro dos europeus com os povos nativos que já habitavam a região. De começo, os índios foram escravizados. O reconhecimento de que eram brasileiros com direito à terra veio de forma lenta, graças à atuação de personagens como Filipe Camarão, que ainda no período colonial, lutou bravamente ao lado de negros e brancos em defesa do Brasil. Nascido por volta de 1600 na região que hoje corresponde ao Rio Grande do Norte, ainda menino, ele foi convertido ao cristianismo e batizado pelos jesuítas como Antônio Filipe Camarão.

Assumiu alguns dos costumes dos brancos, aprendeu a ler e escrever em português, latim e até em holandês. Trajava se à moda dos portugueses e quando estava com os indígenas trajava se à moda dos indígenas. Filipe Camarão era uma forma de intermediário cultural.

Por sua liderança entre as tribos, assumiu posição de comando na expulsão dos invasores que ocuparam o nordeste durante o século XVII. A chegada dos estrangeiros relacionava-se diretamente com a disputa pelo açúcar e tinha ligação também com a crise da sucessão em Portugal. A partir de acordos com os holandeses, Portugal obtinha empréstimos de capital, oferecendo em troca os direitos de refino do açúcar e distribuição no mercado europeu. Mas quando em 1580, o trono português passou para a Coroa espanhola, a situação mudou. Por serem rivais dos espanhóis, os holandeses perderam o comércio de açúcar e foram proibidos de aportar em terras portuguesas. Diante dos prejuízos, elaboraram um plano para atacar as colônias no além mar.

O primeiro ataque ao Brasil aconteceu em 1624, na Bahia. Os invasores conseguiram ocupar Salvador, mas ficaram cercados dentro da cidade e foram expulsos pouco tempo depois. Em 1630, aconteceu a segunda investida: os holandeses chegaram ao litoral pernambucano com uma esquadra de 56 navios. Sem recursos para a resistência, Matias de Albuquerque retirou a população da cidade e incendiou os armazéns do Porto, evitando que o açúcar ali guardado caísse nas mãos do inimigo. A resistência pernambucana não durou muito. Com o tempo, os senhores de engenho decidiram aceitar a influência estrangeira, já que os invasores traziam dinheiro para investir no Brasil. Graças ao apoio de Domingos Fernandes Calabar e a habilidade militar holandesa, em 1634 a Companhia das Índias Ocidentais superou as forças luso brasileiras e instalou certa estabilidade na região. Era a conquista da capitania mais rica da colônia portuguesa.

A serviço da Companhia das Índias Ocidentais. O conde alemão João Maurício de Nassau chegou à cidade do Recife em 1637. Trouxe consigo um grande contingente militar e tentou novamente ocupar Salvador, mas não superou as forças luso brasileiras. Na batalha baiana, outra vez, Filipe Camarão liderou tropas contra os holandeses. Nassau decidiu então adotar outras estratégias. A primeira medida foi restabelecer a produção de açúcar em Pernambuco a partir da concessão de empréstimos. Além de obter lucros, ele queria também formar uma colônia holandesa no Brasil. Apesar das guerrilhas, expandiu o domínio da Companhia das Índias em todo o litoral nordestino, do Maranhão até a foz do Rio São Francisco.

Parte do lucro holandês com o açúcar estava reservado a Nassau. Daí sua disposição em estimular o crescimento da área conquistada. Realizou diversas obras de urbanização no Recife: construiu vilas, palácios e pontes. Para conquistar simpatia, garantiu a liberdade política e de culto. Com isso, permitiu a vinda dos primeiros judeus ao Brasil. Em Pernambuco, eles ergueram a primeira sinagoga das Américas. As potencialidades da terra conquistada foram estudadas por uma comitiva trazida por Nassau. Albert Eckhout, Frans Post e Gaspar Barleus preocupavam-se em registrar detalhadamente os aspectos naturais do Brasil holandês. Estes registros assumiram um caráter científico e ficaram conhecidos em toda a Europa.

No interior do Nordeste, Filipe e sua mulher, Clara Camarão seguiam empenhados em catequizar índios que haviam abraçado o calvinismo introduzido pelos holandeses. Ele agia como porta voz das tribos na luta para eliminar a escravidão a que estavam submetidos.

“Era o momento no qual os indígenas estavam tentando entender aquela ordem colonial, entender aqueles que chegavam na sua terra e tentar negociar com eles. Essa é a posição do Filipe Camarão. Ele está dentro da ordem e ao mesmo tempo está fora. E está tentando entender como os portugueses se comportavam para operar com aquela gramática política e permitir que o seu povo, ao conhecê-la, tivesse um elemento de negociação. A gente pode considerar esse papel do Filipe Camarão um papel de negociação, de busca, de espaço para garantir e proteger aqueles que eram iguais a ele, da sua própria etnia ou população e, com isso, garantir, evidentemente, espaços maiores de proteção e vigilância com relação à escravidão que era praticada, então, contra os indígenas”, segundo explica o historiador Marcos Magalhães.

Após a revolução nacionalista, o trono português foi restaurado na figura do rei João IV. O novo monarca resolveu encerrar o embargo contra os Países Baixos. Na mesma época, a Companhia das Índias Ocidentais decidiu iniciar a cobrança dos empréstimos feitos às elites pernambucanas. Por discordar da decisão, Nassau voltou à Europa. Era o momento esperado pelos senhores de engenho que, mesmo sem apoio formal da coroa portuguesa, começaram a se organizar para expulsar os invasores. O movimento eclodiu em 1645 e ficou conhecido como a Insurreição Pernambucana. Com a volta dos combates, Camarão foi novamente chamado a lutar. Tomou parte das forças brasileiras na Batalha das Tabocas, ao lado de Vidal de Negreiros e Henrique Dias. Em 1648, assumiu a liderança da ala direita do Exército dos Independentes, comandando a tropa de índios na primeira Batalha dos Guararapes. Os holandeses não resistiram após a vitória brasileira, foi agraciado com o título de Dom e a Comenda da Ordem de Cristo. Ferido em combate, faleceu pouco depois. As lutas prosseguiram e o exemplo de Filipe Camarão foi seguido por vários outros índios e os holandeses foram expulsos meses depois.

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