Personalidades

Kid Lima: o potiguar de Natal que é o maior ciclista do mundo

Natal, uma cidade conhecida por suas belas praias e dunas, tem mais um motivo de orgulho: ser o berço de Kid Lima, o maior ciclista do mundo. Originário do Rio Grande do Norte, este potiguar vem surpreendendo o mundo com suas façanhas em duas rodas.
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Consegue identificar a bicicleta na imagem acima? Está posicionada logo abaixo do homem de cabelos acaju, o renomado Kid Lima. Detentor de quatro recordes no Guinness Book por manobrar a bicicleta mais minúscula do mundo, este brasileiro é reconhecido como um dos maiores equilibristas em duas rodas globalmente. Contudo, paradoxalmente, foi ofuscado em seu país.

Frank Sinatra já presenciou Ava Gardner, Marilyn Monroe e Lauren Bacall sem vestimentas. Já assistiu a Martin Luther King derramando lágrimas enquanto ele entoava “Ol’ Man River”, um hino contra o racismo. E até já se emocionou com 170 mil brasileiros cantando “My Way” em um Maracanã abarrotado. Contudo, nada se comparava àquilo. Estávamos em 1988, no luxuoso hotel Fointanebleau em Miami. A celebração? Uma campanha de arrecadação para o Haiti, que reuniu as grandes estrelas do entretenimento. E o destaque? Um adulto equilibrando-se em uma bicicleta de míseros 6 cm (sim, menor que uma caixa de cigarros). Era o ápice da performance do artista brasileiro Kid Lima, o mágico do ciclismo.

“Na plateia, Sinatra, Michael Jackson e Julio Iglesias aplaudiam entusiasmados. Após a apresentação, Sinatra se aproximou e compartilhou que jamais tinha presenciado algo tão único quanto o meu ato”, relata Lima, direto de sua residência em Las Vegas. Se até Sinatra, com toda sua experiência na indústria do entretenimento, estava surpreso, era porque realmente aquele feito era inédito. E permanece sendo. Kid Lima conquistou um espaço no Guinness Book, o Livro dos Recordes, em quatro ocasiões, sempre como o ciclista das menores bicicletas do mundo – a mais pequena delas, com apenas 6 cm, foi fruto de sua própria engenhosidade.

Euclides Medeiros de Lima dedicou sua vida a manter o equilíbrio sobre duas rodas. Nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, ele é o sexto de nove irmãos e filho de um mecânico. Em sua juventude, era frequentador assíduo das apresentações circenses que visitavam sua cidade, sendo os números de bicicleta os que mais capturavam sua atenção. Armado com as habilidades adquiridas na oficina de seu pai, Euclides recriava proezas complexas – como desmontar sua bicicleta em movimento até que restasse apenas uma roda – ao se apresentar nas ruas de Natal.

Aos 13 anos, o jovem autodidata Euclides exibiu seus talentos acrobáticos ao proprietário do renomado circo Tihany, que prontamente o convidou a integrar a equipe. Sem que sua família soubesse, pegou um ônibus rumo a Fortaleza para reunir-se ao grupo circense. Ao tomar conhecimento da fuga do filho, seu pai acionou o Juizado de Menores e enviou o irmão mais velho de Euclides para buscá-lo. Após seu retorno, enfrentou uma severa reprimenda por parte do pai, que determinou que ele só deixaria o lar aos 18 anos, após concluir, no mínimo, o ensino secundário. Contudo, apenas um ano mais tarde, Euclides conseguiu persuadir sua mãe a fornecer-lhe dinheiro para uma passagem aérea até o Rio de Janeiro, mantendo essa decisão em segredo do pai.

Ao desembarcar na então capital brasileira, trazendo consigo sua fiel bicicleta, Euclides foi ao encontro do renomado palhaço Carequinha, a grande estrela circense daquele 1958. Após demonstrar sua performance, foi imediatamente contratado pelo aclamado artista, que sugeriu uma pequena alteração: “O nome ‘Euclides’ não vai funcionar! A partir de agora, você será conhecido como Kid Lima”. Em pouco tempo, Kid Lima já estava se apresentando no programa televisivo de Carequinha e viajando pelo Brasil sob a asa protetora do circo. “Ele me tratava como se fosse seu próprio filho”, relembra. Durante essa fase, Kid deixou de lado outra de suas paixões: a luta livre.

Após sua experiência com Carequinha, Kid Lima explorou outros palcos renomados, incluindo os circos de Jarbas Olimecha e Franz Tihany. Também marcou presença nos programas televisivos de figuras como Arrelia, Flávio Cavalcanti, Moacyr Franco, Hebe Camargo, entre outros. “Jarbas foi quem me instruiu que não era suficiente apenas apresentar meu ato; eu precisava entender de vestuário, saber como me comunicar com o público e tornar o espetáculo mais envolvente. Ele sugeriu, por exemplo, que eu posicionasse a bicicleta sobre o banquinho de um elefante”, relembra Kid. “Quando Kid chegou ao Rio, já dominava a bicicleta com maestria. No entanto, seu visual ainda era bem simples, usando camisetas de times de futebol”, comenta Luiz Olimecha, sobrinho de Jarbas e fundador da Escola Nacional de Circo.

Pouco tempo após sua chegada ao Rio, Kid já se aventurava em terras estrangeiras, partindo com a bênção de sua mãe para um espetáculo em um cassino de Mar del Plata. Esse foi o ponto de partida para uma extensa e aclamada jornada internacional, englobando quase todos os países da América Latina, Europa e Ásia. Sua carreira incluiu uma residência de 12 anos no Japão e períodos significativos em Las Vegas, com apresentações em renomados cassinos como Caesar Palace, MGM e Tropicana. “Tenho registros de 162 nações em meus passaportes. E domino oito idiomas, incluindo o japonês”, declara Kid com orgulho, um autodidata que cursou apenas até a quinta série. “Me apresentei duas vezes no show do Ed Sullivan, palco onde os Beatles fizeram sua estreia nos EUA. Em Tóquio e Las Vegas, sou frequentemente reconhecido e abordado para autógrafos.”

Durante as décadas de 60 e 70, Kid Lima já havia consolidado sua posição como um dos mais destacados equilibristas em bicicleta do planeta, introduzindo novidades, como uma manobra onde a bicicleta era erguida sobre um pedestal. Porém, foi no início da década de 80 que ele desenvolveu seu ato mais icônico: a pedalada em uma minibicicleta (para ter noção do feito, é recomendável assistir a este vídeo). Inicialmente, a bicicleta media 30 cm, o que já lhe garantiu uma menção no Guinness Book. Com o passar do tempo, a bicicleta foi ficando ainda menor, proporcionalmente ao aumento da popularidade do ato. Kid ainda adicionou um elemento cativante: ele desafiava alguém da plateia a tentar pedalar a minibicicleta, oferecendo um prêmio que podia alcançar US$ 20 mil. “A pessoa geralmente acaba caindo, e a plateia se diverte à beça”, comenta Kid, rindo da própria criação mesmo após três décadas de apresentações.

Sem dúvida, Kid Lima é um nome que ficará para a história, não apenas do ciclismo, mas como um símbolo de determinação e sucesso.

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